A dislexia é o transtorno de aprendizagem com maior incidência nas salas de aula. Trata-se de um transtorno específico e persistente da leitura e da escrita, caracterizado por um inesperado e substancial baixo desempenho da capacidade de ler e escrever, apesar da adequada instrução formal recebida, da normalidade do nível intelectual e da ausência de déficits sensoriais. Pesquisas realizadas em vários países mostram que entre 5% e 17% da população mundial é disléxica.
O grande impacto desse transtorno na população tem motivado diversos estudos sobre o assunto e algumas pesquisas recentes, como um estudo sobre a dificuldade dos disléxicos de associarem as pessoas às suas vozes, têm ajudado a compreender melhor a sua causa. Novas evidências têm demonstrado que o nível de QI (Quociente de Inteligência) não deve ser considerado para o diagnóstico da dislexia e também estão conduzindo a novas técnicas para o diagnóstico precoce através do uso de neuroimagem.
Como foi mencionado anteriormente, a definição generalizada da dislexia considera que os disléxicos possuem um nível intelectual dentro da normalidade, mas pesquisadores da Universidade de Stanford, nos EUA, comprovaram que pessoas com dificuldade de leitura possuem o mesmo padrão de ativação cerebral, independente do nível de QI. Essa descoberta oferece evidência biológica de que o QI não deve ser enfatizado no diagnóstico de habilidades de leitura, contradizendo a prática comum de utilizar o QI como fator auxiliar para definir e diagnosticar a dislexia.
Para entender melhor o que acontece nos cérebros de pessoas com baixa habilidade de leitura e sua relação com o nível de QI, os pesquisadores se voltaram para recursos de imagem, a ressonância magnética funcional. Para isso eles avaliaram um grupo de 131 crianças com idades entre 7 e 16 anos classificados em três grupos: fraca leitura com QI normal, fraca leitura com baixo QI, e leitura normal com QI normal. Os grupos foram submetidos a um teste envolvendo rimas enquanto passavam pela ressonância magnética.
Os resultados mostraram que os dois grupos de crianças com fraca leitura tiveram um desempenho parecido no teste de rimas, porém muito inferior ao do grupo de crianças com leitura normal. E as imagens indicaram que os padrões cerebrais dos grupos de fraca leitura eram também parecidos na maior parte do tempo, ao contrário do grupo com leitura normal.
Os pesquisadores ressaltam que essa descoberta soma a diversas outras evidências que indicam que uma criança com dificuldade na leitura, independentemente do seu nível de QI, deve ser estimulada a procurar intervenção específica para leitura. Esses novos resultados chegam num momento em que estudos comportamentais recentes mostram que as dificuldades no processamento do sistema sonoro da linguagem, que geralmente leva a dificuldades para conectar os sons da linguagem às letras, são similares em pessoas com baixa habilidade de leitura, independentemente do QI.
Isso fica mais claro em outro estudo recente, que descobriu que pessoas com dislexia têm dificuldade para distinguir pessoas pelas suas vozes. Isso se deve à dificuldade do disléxico de reconhecer as diferenças fonéticas, as propriedades físicas da fala que torna exclusiva a voz de uma pessoa, independentemente do idioma. A causa provável é que eles sofrem de comprometimento fonológico.
Para chegar a essa descoberta, os cientistas do MIT, nos EUA, treinaram pessoas com e sem dislexia para reconhecer as vozes de pessoas falando seus idiomas nativos, no caso o inglês, e também um idioma desconhecido deles, o mandarim. Em cada idioma, os participantes aprenderam a associar as vozes dos falantes a personagens diferentes e depois foram testados na habilidade de identificar corretamente as vozes.
Os cientistas descobriram que os disléxicos eram significativamente piores em consistentemente reconhecer as vozes no idioma inglês, porém eram tão ruins quanto os não disléxicos em reconhecer as vozes no idioma chinês.
O resultado reafirma a teoria de que o déficit da dislexia não está no ato da leitura em si, mas na verdade envolve dificuldades de como os sons da língua falada são ouvidos e processados no cérebro do disléxico. Porém, o que as teorias sobre dislexia ainda não foram capazes de explicar convincentemente, de acordo com os pesquisadores, é por que não há dificuldade aparente na habilidade das pessoas com dislexia de perceber e produzir a fala.
Muitas pesquisas demonstram que pessoas com dislexia têm mais dificuldade de compreender a fala quando existe ruído ao redor. Esses resultados sugerem que a dificuldade de se seguir uma voz específica pode ser parte da causa. Então, professores e demais educadores devem ser sensíveis a isso durante as suas aulas, uma vez que o barulho dos outros alunos pode tornar desproporcionalmente difícil para alunos disléxicos acompanharem o que está sendo ensinado.
Apesar de a dislexia ser uma condição hereditária, segundo o Instituto ABCD, o disléxico responde às intervenções terapêuticas e educacionais específicas, mesmo que lentamente. Somente com intervenções adequadas pode-se melhorar o desempenho em leitura e escrita, que também podem ser beneficiadas por diversos fatores facilitadores como a precocidade do diagnóstico, e o ambiente familiar e escolar.