Observando um cenário de uma criança de 10 anos lendo em voz alta uma frase simples como “O CAVALO MARROM PULOU POR CIMA DO MURO DE PEDRA E CORREU PELO PASTO” seria simples para a criança que pense no som das palavras, mas para um disléxico da mesma idade que constrói imagens com as palavras lidas, o processo torna-se mais difícil.
A primeira palavra “O” já causa um vazio na imaginação, pois não há imagem nela. Isso já desencadeia uma confusão mental. A criança se concentra e força-se para ultrapassar essa imagem em branco e diz “O” forçando-se a ler a próxima palavra. Esta palavra “CAVALO” PROPUZ UMA IMAGEM mental de um cavalo e concentrando-se diz “cavalo”.
A palavra “MARROM” transforma a imagem anterior num “cavalo marrom” continuando a sua concentração diz “marrom”.
A palavra “PULOU” faz o cavalo se erguer no ar. A criança continua se concentrando e diz “pulou”.
A palavra “POR” novamente produz o vazio e concentrando-se mais ela diz “por”. A palavra “CIMA” faz o cavalo marrom se erguer e concentrando, diz “cima”.
A palavra “DO” produz o branco novamente aumentando sua confusão, porém o seu limite da confusão ainda não foi atingido. Agora ela precisa dobrar a concentração para ir adiante para a próxima palavra “DO” e ao fazer isso ela pode até omitir esta palavra.
A palavra “MURO” produz a imagem de um muro e com a concentração redobrada diz “ muro”. A palavra “DE” produz branco de novo mas ela ainda consegue dizer “de”.
A palavra “PEDRA” transforma o muro num muro de pedra e ainda com a concentração redobrada ele diz “pedra”.
A palavra seguinte “E” produz espaço em branco novamente e desta vez atinge o limite da confusão que a deixa sem orientação. Ela para, mais confusa, duplamente concentrada e agora desorientada. A única maneira dela continuar lendo é aumentando ainda mais a concentração, mas como agora ela está desorientada os sintomas da dislexia vão aparecer. É possível que ela deixe de dizer a palavra “E”’ ou substitua por “i” “a” “o’ e agora já não consegue mais formar uma percepção clara das palavras na página.
Agora ela faz um esforço muito grande para se concentrar e gasta muita energia para conseguir continuar lendo.
A palavra “ CORRER” como ela esta desorientada é substituída por corro e faz uma imagem de si mesmo correndo que não tem relação com o “cavalo marrom”.
A próxima palavra “PELO” produz a imagem vazia novamente. Ela para de novo, mais confusa, ainda mais desorientada. A única maneira dela continuar lendo agora é quadruplicando o esforço para a concentração, mas quando faz isso deixa de dizer a palavra “pelo”.
Esse tipo de confusão já pode ter produzido uma sensação de tonteira, se sente enjoada e as palavras não estão mais nítidas na página.
A última palavra “PASTO” ela precisa decifrar letra por letra para pronunciar o som da palavra e vai ver um capinzal, mas apesar disso consegue pronunciar a palavra “pasto”.
Quando termina ela fecha imediatamente o livro e o afasta, como se dissesse “CHEGA DISSO”.
Se perguntar o que ela acabou de ler poderá dizer “um lugar onde o capim cresce”. Ela até tem a imagem de um cavalo no ar, ele mesmo correndo, um muro de pedra, mas não consegue relacioná-las.
Quem ouve esta criança lendo pode dizer com certeza que ela não entendeu nada do que leu, mas ela não se importa de não entender, só está aliviada de ter sobrevivido a aflição dessa leitura. Se fosse um pouco mais velha saberia não entendeu o que acabou de ler e poderia voltar a ler. Mas vendo o cenário acima, você acha que adiantaria? Não.
Se for um adulto vai reler algo importante de três a dez vezes para entender ou então vai desistir.
Se você se encaixa neste exemplo ou seu filho, não desista achando que precisará ser sempre assim, procure ajuda e melhore sua capacidade para ler com mais conforto e mais facilidade. Tudo é modificavel!
Magna de Oliveira Melo
Referencia bibliográfica- DAVIS, Ronald D. o dom da dislexia . Rio de Janeiro: Rocco, 2004.