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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

INTELIGÊNCIA: Tela mental, imaginação e mielinização

Por Magna de Oliveira Melo
O comportamento e o aprendizado do ser humano estão relacionados a processos neurais específicos, o processo de comunicação entre os neurônios influencia diretamente o comportamento e o aprendizado. Em todo momento da vida o cérebro trabalha, a nossa capacidade de aprender é muito maior do que podemos imaginar. Aprender novas habilidades significa reestruturar fisicamente o cérebro, alterando a forma de como o cérebro funciona. Ao nascer o processo de maturação do sistema nervoso possibilita que o aprendizado de habilidades ocorra gradualmente. À medida que uma determinada área cerebral vai amadurecendo, haverá comportamentos relacionados com a área que já está mais desenvolvida. Apesar de bebês e crianças podem serem capazes de movimentos complexos, a coordenação e o controle motor fino só serão alcançados após o término da formação nesta área de uma substância chamada mielina.  
MATURAÇÃO NEURONAL
As células especializadas que constituem o cérebro, os neurônios, tem uma enorme plasticidade e capacidade de adaptação, são os grandes responsáveis pelo sistema de informação e comunicação neuronal.. Os neurônios são compostos por 3 partes: o corpo celular: tem muitas moléculas de proteínas especializadas; os receptores, que detectam os neurotransmissores na fenda sinaptica, no espaço entre dois neurônios. O axônio: são longas fibras nervosas que transmitem sinais através do cérebro, se estendendo ao corpo celular de um neurônio até outro como um dedo esticado, ou seja, é um tipo de cabo condutor de sinais onde a informação é passada de uma célula à outra. Os dendrítos: estruturas que servem como o principal caminho para receber sinais de outras células nervosas, funciona como antena do neurônio e são cobertos por milhares de sinapses. É possível compará-los a galhos de uma árvore que vai se ligando a outros galhos, se ramificando muitas vezes. Quando o corpo celular envia uma mensagem, o axônio a leva até o dendríto do próximo neurônio e produz a sinapse. Podemos pensar em sinapse como criar ou fortalecer os trajetos entre os neurônios através de impulsos elétricos no espaço da fenda sináptica. figura abaixo é possível observar como é feita a comunicação entre os neurônios:
Fig.1 diagrama de um neurônio
Para que o axônio possa levar a mensagem com eficiência é necessário que tenha passado por um processo chamado de mielinização. Isto quer dizer que o axônio é envolvido por uma camada de gordura e proteína, onde vai ocorrendo a maturação dos neurônios. O processo de mielinização da rede dendríticas depende de uma boa alimentação e de uma estimulação apropriada. Crianças, por exemplo, que passam fome no primeiro ano de vida e não tenham boa estimulação no seu ambiente, não desenvolvem satisfatoriamente essa maturidade neurológica, e isto pode prejudicar alguma área do funcionamento cerebral. Segundo assencio (2005) algumas dificuldades de aprendizado estão relacionadas a algum tipo de falha no córtex, e acaba havendo uma falha na interpretação dos estímulos recebidos e deixar a cognição menos eficiente. Devido a esta falha pode não haver existência de alguma substância, neurônios ou ligações dendríticas que fazem a associação.
Mielinização
Há no cérebro uma substância cinzenta e uma substância branca. Em um aparelho de ressonância magnética (mri), é possível perceber as áreas cinzentas e as brancas, mas sem muita definição, já a dti (sigla em inglês para tensor da difusão de imagem), uma nova técnica sofisticada de escaneamento do cérebro mostra com detalhes significativos. O córtex e outras células nervosas são cinzentos, e as regiões entre eles são brancas. A substância cinzenta do sistema nervoso é produzida pela agregação de milhares de corpos celulares e dendrítos dos neurônios e também axônios sem mielina, a substância cinzenta do cérebro é o local em que se dá a atividade mental e o armazenamento da memória. O córtex compõe-se de uma densa camada de corpos celulares. Partes responsáveis pelas decisões das células nervosas, ou neurônios. A substância branca no cérebro é a bainha de mielina, que tem cor esbranquiçada, por tal motivo vem a ser considerada como a substância branca do cérebro. Os neurônios são protegidos por esta substância branca e gordurosa; a mielina, ocupando mais ou menos a metade do nosso cérebro e bem maior no ser humano do que em outros animais. Portanto, a cor branca no cérebro revela a presença de feixes de axônios mielinizados.
Fig.2 substância cinzenta e substância branca
A mielina funciona mais ou menos como um isolamento das fibras nervosas, os axônios. Forma-se nos axônios como uma fita isolante, enrolada em espiral por até 150 vezes entre cada nódulo. É uma produção em camadas por dois tipos de células glias. Permitem que uma informação, ou seja, os sinais ou impulsos elétricos sejam transmitidos mais rapidamente do cérebro ao resto do corpo, ou de uma parte específica do corpo ao cérebro.
Fig.3 mielina
A mielina, entretanto não serve somente para este isolamento como costuma-se pensar antes, de acordo com Filds (2008) seus cabos não são apenas como condutores passivos, mas a mielina afeta consideravelmente a maneira de como o cérebro aprende. Apesar de o processamento mental acontecer na área cinzenta do cérebro, Assencio (2008) afirma que quando há uma imaturidade neurológica, há uma incapacitação do sistema nervoso central para desempenhar as funções sensitivo-motora-sensitiva e esta maturidade como percebemos depende da mielinização e do aumento da rede dendríticas. A ausência desta substância bloqueia a transmissão dos impulsos nervosos de uma célula a outra.
Imaginação e tela mental
Pensamos em tela mental, como representações holográficas, ou seja, não um local dentro de cérebro, um local fora do cérebro onde contém imagens com desenhos, que podem ter som, movimento, cores, temperatura, gosto, cheiro como uma realidade teria, mas com uma configuração interna que a pessoa é capaz de fazer sobre algo perceptivamente ausente. São construções mentais de pensamentos, arquivos da memória, conteúdos pessoais que podem ter origem na consciência ou no inconsciente. “A imagem é um instrumento de conhecimento e depende das funções cognitivas” (fraisse & piaget, 1963), que influencia na representação interna que cada pessoa constrói ou poderia construir. Podemos deslizar para uma situação imaginada na tela mental ou visualizar um objeto ausente, referindo-se a uma reprodução interiorizada na ausência de um modelo, que permite a evocação de imagens não realmente percebidas. Este conhecimento figurativo se baseia na abstração empírica, na capacidade de descoberta e de descrição das propriedades particulares e pode auxiliar representando e antecipando alguns aspectos do real. Estes aspectos são indicados pelas noções espaciais e de imagens mentais. A imaginação consiste em representar mentalmente e descrever a realidade, enquanto não está vivendo a situação real. Podemos dizer que a imaginação constitui-se de um sistema de representações internas que dependem de uma construção subjetiva de uma determinada realidade, que venham a traduzir um nível de compreensão desta mesma realidade, permite investigar o real para conhecer seus efeitos. Segundo Winston (2004) uma pesquisa da British Broadcasting Corporation (BBC) sobre esportistas, os cientistas descobriram que uma região do cérebro é ativada quando imaginamos um movimento corporal, criando trajetos entre os neurônios, o que torna mais fácil aos atletas fazer os movimentos corretos depois que tal caminho já está criado. A imaginação possibilita, portanto analisar o passado e avaliar possibilidades para um determinado futuro em qualquer que seja a situação. As imagens mentais mexem muito mais com os nossos sentidos: podemos perceber isto ao falarmos que estamos experimentando um limão bem azedo, se não criarmos a imagem na tela mental, estas palavras não produziram nenhum efeito, mas ao criarmos a imagem na tela mental, esta imagem produzirá percepções sensoriais, como salivação, por exemplo. As imagens mentais podem ser muito mais fortes do que as palavras que não estejam acompanhadas das imagens as quais tais palavras estejam representando. Havendo divergências entre imagens mentais e palavras, as imagens tenderam a ganhar. Esta divergência ocorre quando a pessoa pensar algo e criar imagens contrárias ao que pensou mesmo sem perceber. As imagens na tela mental são muito importantes para a aprendizagem e permite treinar a mente e criar padrões neurais no cérebro a respeito de um assunto.
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b><b>Mielinização, aquisições intelectuais e tela mental
O processo de mielinização ocorre gradualmente, ou seja, diferentes neurônios se mielinizam em diferentes épocas do desenvolvimento do organismo. Esse fato fornece embasamento para a compreensão das teorias que descrevem as fases evolutivas da criança, como os estágios de Piaget. As funções neurológicas são importantes para as funções cognitivas de uma imagem mental. Conforme Piaget, a formação da imagem na tela mental está ligada ao aspecto das funções cognitivas, aos aspectos figurativos do pensamento e também com a percepção, portanto será influenciado pela maturidade do cérebro. Assim como o processo de mielinização o surgimento da imagem mental também não acontece ao nascer e também passa por transformações. Na teoria de piaget no curso do desenvolvimento infantil, por volta dos dois anos de idade, a imagem mental será uma imagem reprodutora, essencialmente estática, é quando ocorre a capacidade de representar um objeto, acontecimento ou esquema conceitual, esta capacidade é chamada de função semiótica, a qual a representação mental é uma entre as cinco partes desta função. Por volta dos 7 ou 8 anos o pensamento torna-se operatório, assim a imagem mental torna-se antecipadora, isto quer dizer que é uma imagem que possibilita imaginar “movimentos ou transformações assim como seus resultados, mas, sem haver assistido anteriormente à sua realização” (Piaget, 1994 ).
Para Piaget o estudo das imagens mentais teve por objetivo verificar as relações existentes entre a representação de imagem e o funcionamento do pensamento, o que equivale dizer que suas pesquisas sobre as imagens, estão relacionadas com o desenvolvimento do cérebro, incidindo sobre os aspectos figurativos e operativos das funções cognitivas. Piaget estudou a estrutura da imagem e não o seu conteúdo. Ao analisar as capacidades imagéticas encontra-se a possibilidade de que uma pessoa imagine “objetos estáticos, transformações conhecidas, ou mesmo antecipe em imagens as transformações novas para ele” (Piaget & Inhelder, 1977:19). Com a internalização dos objetos pode-se marcar o aparecimento de uma imagem ou da representação mental, a partir daí uma pessoa é capaz de lidar com objetos ausentes podendo dispensar características perceptuais de um objeto. Por exemplo, quando a pessoa ouve um cachorro latir vai aparecer na sua tela mental um cachorro, ela não irá imaginar um elefante, a não ser que nunca tenha visto um cachorro antes. Ao lembrar de uma música, naturalmente lembraremos de algo que está relacionado e isto poderá se relacionar a outra imagem, consecutivamente criar uma história, imaginando-a na tela mental, o que torna possível pensar além dos limites da percepção da realidade de acordo com experiência interna de cada um. Quando as funções na tela mental requerem associação, o cérebro procura associar as imagens dando sentido a elas e precisa ativar outras regiões do cérebro. Quando tiver que evocar uma lembrança, ativará áreas ligadas à memória e sabe-se que a memória e o aprendizado se dão quando determinados circuitos neuronais se conectam de forma intensa. É bem possível de que a mielina influencie esta intensidade.
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b>A hierarquia no processo de mielinização>
A ciência hoje sabe que a maturação cerebral total do individuo só vai acontecer na fase adulta, a criança mesmo após passado por todas as fases do seu desenvolvimento ainda não terá adquirido a forma final de equilíbrio, nem conseguido ainda alcançar um padrão intelectual que persistirá durante a idade adulta, mas sim, o amadurecimento do cérebro ainda continuará por mais alguns anos. A mielina é apenas parcialmente formada no nascimento e conforme já observamos, se desenvolve, aos poucos, em diferentes regiões do cérebro. A bainha de mielina só se completa por volta de 25 anos. Este fato pode ser uma das justificativas para a difícil tomada de decisões na adolescência. O momento do crescimento pode influenciar a aprendizagem, o auto controle (comportamento que normalmente os adolescentes ainda não têm) e transtornos mentais como a esquizofrenia, o autismo e, até mesmo de aprendizagem. figura a seguir vemos a etapa de mielinização ocorrida no decorrer do desenvolvimento humano:
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Piaget & Inhelder (1977) afirmam que as representações de imagem se constrói gradualmente apresentando graus crescentes de complexidade, produzindo uma hierarquia de imagens. Podemos relacionar possivelmente com a graduação da maturação da bainha de mielina sobre o cérebro. A primeira área mielinizada no lobo frontal é a área motor primário, responsáveis pelo desenvolvimento motor e sensitivo. O desenvolvimento nesta área permite a execução de movimentos voluntários. Na seqüência vem a maturação da área pré-motora que vai permitir uma melhor organização do movimento. Como este processo começa na parte posterior do cérebro até chegar à parte frontal, a última área que será mielinizada será na região frontal do cérebro. O córtex pré-frontal é a região responsável pela capacidade de concentração, de percepção e de alternar o foco entre diferentes tarefas, como, organizar, planejar manter a atenção e o autocontrole, pela linguagem e pelo pensamento sofisticado, tais faculdades só adquiridas com a experiência.
Fig. 5 áreas do cérebro
A mielina vai se concentrando nestas áreas temporal. Quanto mais mielina nessas regiões, mais acelerados são os impulsos entre os neurônios. E uma informação irá direto de uma célula nervosa para outra. Segundo Fields (2008), pesquisadores especulam que uma maior quantidade de mielina nas regiões críticas para tomada de decisões, beneficiariam as pessoas mais velhas, que por conta desta maturação acabariam sendo mais sensatas que as mais jovens. Esta teoria sugere, portanto a importância da mielina na aquisição intelectual. Segundo fields (2008) diretor do setor de plasticidade e desenvolvimento do sistema nervoso do national institute of child health and human development, nos estados unidos, os cientistas negligenciaram a importância da mielina na transferência de informações entre as regiões do cérebro, e já reconheceram o fato. Ele afirma que após anos pesquisando a substância cinzenta como causa de doenças mentais, os neurocientistas agora descobriram evidencias de que a substancia branca também é importante. Os cientistas ao examinar os neurônios ao microscópio, viam apenas os axônios. Mas ao observaram que cada axônio estava recoberto com um gel cristalino os anatomistas deduziram que esta cobertura de gordura servia para isolar os axônios como uma capa de borracha sobre um fio de cobre. No entanto, há também muitos axônios sem mielina. Todas as informações devem ser transmitidas rapidamente nos circuitos neurais, isto quer dizer que os axônios deveriam ser mielinizados por igual, mas nem sempre porem esta rapidez é melhor para os neurônios. Uma informação deve percorrer diferentes distâncias e chegar a um determinado lugar em um determinado tempo. Quando uma aquisição intelectual é complexa, por exemplo, a informação deve ir e voltar entre diversas regiões, precisando, portanto, de algum atraso para torna-se eficiente. Ou seja, se todos os axônios transmitirem a informação na mesma velocidade, os sinais de neurônios mais distantes sempre chegariam após os de sinais dos neurônios mais perto. Um impulso leva de 30 milissegundos para percorrer de um hemisfério do cérebro para outro, pelos neurônios mielinizados, comparado a 150 a 300 milissegundos de neurônios desmielinizados. No nascimento nenhum dos axônios do corpo caloso é mielinizado e até o inicio da vida adulta 30% permanece sem mielina, afirma fields (2008). Alguns estudos recentes sugerem diferença entre pessoas que apresentam determinadas disfunções. A diferença também se mostra quando uma pessoa aprende algo ou pratica uma habilidade como tocar piano, por exemplo. Os neurônios executam atividades físicas e mentais na substância cinzenta, mas o funcionamento da mielina tem igual importância na determinação de como a pessoa domina estas atividades. Apesar de ser a substância cinzenta que produza o pensamento e os cálculos no cérebro, são as substâncias brancas controlam os sinais compartilhados pelos neurônios e coordenam a maneira como as regiões do cérebro trabalham em conjunto. A mielinização, então só termina na idade adulta, por volta de 25, 30 anos, pois até esta fase os axônios continuam a se desenvolver, adquirindo novas ramificações e outros vão sendo aprimorados pela aquisição de experiências. Depois que termina o processo de mielinização, as mudanças são mais limitadas, Douglas Fields afirma que por muito tempo houve a dúvida de que a formação de mielina seria programada ou as experiências de vida alterariam o grau de recobrimento, com um limite para o aprendizado? A mielina seria responsável pelo desenvolvimento da capacidade cognitiva ou isto se restringiria somente as regiões onde ela ainda não tivesse formado? Em 2005 Fredrik Ullén, professor adjunto do instituo do cérebro de Estocolmo, na Suécia e seus colegas fizeram uma pesquisa com um grupo de pianistas profissionais, comprovou que o cérebro destes profissionais tinha a substancia branca bem maiores em certas regiões do cérebro (Fields, 2008). pesquisa confirmou que a mielina pode se alterar em resposta à experiência mental e ao seu ambiente de desenvolvimento, reforçando a importância de estímulos externos no processo da mielinização, o que é muito importante para o aprendizado que por ser uma atividade complexa, produzirá nítidas alterações na substância branca. Outra pesquisa feita pelo neurobiologista Willian t. Grrenough da Universiy of Illinois, nos estados unidos, mostra que camundongos criados em ambiente de fácil acesso à brinquedos e interação social, apresentaram mais fibras mielinizadas. O neurocientista Yucent j. Schimithorst, do Incinat children’s hospital , comprovou que maior quantidade de substancia branca tem relação ao nível intelectual mais elevado. de alguns pesquisadores ainda precisarem de uma explicação mais plausível para comprovar que a falta de mielina venham a comprometer as faculdades mentais, ou ao se a grande quantidade favorece realmente a cognição, estas descobertas comprovam a influência da experiência na formação da mielina. A mielinização reage ao ambiente interferindo na aprendizagem em parte por fortalecer as conexões neuronais, resultando em capacidade para a aquisição intelectual e para o aprimoramento, Fields relata que em seu laboratório já foi investigado as várias maneira pelas quais as experiências pessoais influenciam a formação de mielina. Os testes também ajudaram a explicar como a substância branca influencia a capacidade cognitiva, afirma também não haver nenhuma dúvida de que a mielina responda ao ambiente e toma parte nas habilidades cognitivas. Foi contatado em crianças e adolescentes de 5 a 18 anos uma direta relação entre maior desenvolvimento da mielina e inteligência mais alta, assim como as crianças que eram submetidas a negligência apresentaram 17% menor a substância no corpo caloso. É possível perceber a partir destes estudos que uma falha nesta transmissão de informações entre os neurônios pode comprometer o sistema neurológico. A dislexia, por exemplo, resulta em um desajuste nesta comunicação nos circuitos responsáveis pela leitura. A imagem do cérebro mostrou a redução nestes tratos, como uma provável justificativa para este desajuste. “acredita-se que anormalidades na substância branca refletem as falhas na mielinização e as anormalidades dos neurônios que afetam estas conexões da substância branca” (Fields, 2008). Nas pessoas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, distúrbio bipolar, distúrbios de linguagem autismos, declínio cognitivo senil, mal de Alzheimer e até a mentira compulsiva, também havia anormalidades na quantidade de mielina encontrada. A esquizofrenia é vista hoje como um distúrbio em que a conectividade não é normal. Em torno de 20 estudos recentes concluíram que a substancia branca é anormal em esquizofrênicos e que o problema está relacionado ao desenvolvimento da mielina. mielina subdesenvolvida ou desabilitada pode ser o resultado desta deficiência de comunicação entre os neurônios e não necessariamente sua causa. A eficiência na comunicação entre as regiões do cérebro é dependente da qualidade de substancia branca ligando as regiões e isso é muito importante para uma adequada aquisição intelectual. “as alterações da mielina alteram os neurônios ou as alterações no padrão neuronal alteram a mielina”? (Filds, 2008). As investigações de Ullén sobre pianistas aclamados revelaram que a substância branca é mais desenvolvida em cérebro que aprenderam a tocar um instrumento na infância. Em pessoas que aprenderam na adolescência, o desenvolvimento da substancia branca foi aumentado apenas na parte do cérebro que ainda estava em processo de mielinização, indicando que as fibras nervosas em parte determinam as faixas etárias para aquisições cognitivas. A mielina contém moléculas de uma proteína especifica que impedem o aparecimento de novos axônios e a formação de novas conexões. Quando esta proteína nogo-a , foi neutralizada, animais que tinham lesões na medula espinhal repararam as conexões comprometidas e recuperaram a sensibilidade e o movimento. Segundo Fields (2008) Stephen m. De Yale descobriu que o período critico para ramificar o cérebro de animais através de uma experiência poderia ser reaberto, bloqueando-os estes sinais da nogo. Quando a proteína foi quebrada, em camundongos velhos, esses animais conseguiram refazer as conexões da visão. A substância branca é fundamental para o aprendizado que exige repetição e prática prolongada, além de uma ampla interação entre as regiões muito distantes do córtex cerebral As aquisições de novas habilidades em crianças cujo cérebro continua a ser mielinizado adequadamente ocorrem muito mais facilmente que seus avós. O cérebro que temos hoje é resultado da interação com o ambiente que tivemos durante todo o nosso crescimento, enquanto nossas conexões neurais ainda estavam sendo mielinizadas. Talvez não possamos nos tornar uma excelente pianista, jogador de xadrez ou tenista se não começamos a treinar na infância. Pessoas mais velhas também aprendem, mas é um tipo diferente de cognição, com envolvimento direto das sinapses. “e como o treinamento intensivo leva os neurônios a emitir estímulos, da mesma forma é possível que estes estímulos, provoquem a mielinização”. (Fields, 2008 p. 55)
Concluindo:
Da infância até a vida adulta, à medida que nosso cérebro amadurece a precisão das conexões entre as regiões também vai evoluindo e a qualidade destas conexões pode determinar a probabilidade da aquisição de certas habilidades, em determinadas épocas. Isto não significa, portanto que em todas as pessoas esta época seja exatamente a mesmas. Há de se lembrar de que cada ser humano tem seu tempo de mielinização, cada cérebro tem sua própria forma de funcionar, sua forma de maturação de acordo com as variantes apresentadas. Devem ser respeitados tais processos de maturação no cérebro para que a construção dos circuitos neurais tenha condição de fazer da melhor maneira possível. Isso requer uma diferenciação na aprendizagem, pois tal processo é muito subjetivo, único em cada individuo, seu tempo de aprendizagem precisa ser levado em consideração sempre.
Referências:
Assencio-ferreira, vicente josé. O que todo professor precisa saber sobre neurologia. Coleção inclusão social. São josé dos campos: pulso, 2005. ___________________ congresso brasileiro sobre dificuldades de aprendizagem e do ensino, são paulo: 2008. Bartzokis, george. Falha nas conexões cerebrais pode ser causa de alzheimer. Htpp:// bbc brasil.com; acesso em 26 de agosto de 2008. Fraisse, P., Jean Piaget,J. Traité de Psychologie Experimentale P.U.F., Paris, 1963. PiAGET, J., INHELDER, B. A psicologia da criança. Rio de Janeiro : Difel, 1977. Fields, r. Douglas. A estratégica substância branca. Scientific American. Brasil: ed. Duetto, abril 2008. Winston, r. Mistérios da mente, British Broadcasting Corporation, brasil: dvd vídeo, 2004.