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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Porque um disléxico não compreende o que lê?

Observando um cenário de uma criança de 10 anos lendo em voz alta uma frase simples como “O CAVALO MARROM PULOU POR CIMA DO MURO DE PEDRA E CORREU PELO PASTO” seria simples para a criança que pense no som das palavras, mas para um disléxico da mesma idade que constrói imagens com as palavras lidas, o processo torna-se mais difícil.

A primeira palavra “O” já causa um vazio na imaginação, pois não há imagem nela. Isso já desencadeia uma confusão mental. A criança se concentra e força-se para ultrapassar essa imagem em branco e diz “O” forçando-se a ler a próxima palavra. Esta palavra “CAVALO” PROPUZ UMA IMAGEM mental de um cavalo e concentrando-se diz “cavalo”.

A palavra “MARROM” transforma a imagem anterior num “cavalo marrom” continuando a sua concentração diz “marrom”.

A palavra “PULOU” faz o cavalo se erguer no ar. A criança continua se concentrando e diz “pulou”.

A palavra “POR” novamente produz o vazio e concentrando-se mais ela diz “por”. A palavra “CIMA” faz o cavalo marrom se erguer e concentrando, diz “cima”.

A palavra “DO” produz o branco novamente aumentando sua confusão, porém o seu limite da confusão ainda não foi atingido. Agora ela precisa dobrar a concentração para ir adiante para a próxima palavra “DO” e ao fazer isso ela pode até omitir esta palavra.

A palavra “MURO” produz a imagem de um muro e com a concentração redobrada diz “ muro”. A palavra “DE” produz branco de novo mas ela ainda consegue dizer “de”.

A palavra “PEDRA” transforma o muro num muro de pedra e ainda com a concentração redobrada ele diz “pedra”.

A palavra seguinte “E” produz espaço em branco novamente e desta vez atinge o limite da confusão que a deixa sem orientação. Ela para, mais confusa, duplamente concentrada e agora desorientada. A única maneira dela continuar lendo é aumentando ainda mais a concentração, mas como agora ela está desorientada os sintomas da dislexia vão aparecer. É possível que ela deixe de dizer a palavra “E”’ ou substitua por “i” “a” “o’ e agora já não consegue mais formar uma percepção clara das palavras na página.

Agora ela faz um esforço muito grande para se concentrar e gasta muita energia para conseguir continuar lendo.

A palavra “ CORRER” como ela esta desorientada é substituída por corro e faz uma imagem de si mesmo correndo que não tem relação com o “cavalo marrom”.

A próxima palavra “PELO” produz a imagem vazia novamente. Ela para de novo, mais confusa, ainda mais desorientada. A única maneira dela continuar lendo agora é quadruplicando o esforço para a concentração, mas quando faz isso deixa de dizer a palavra “pelo”.

Esse tipo de confusão já pode ter produzido uma sensação de tonteira, se sente enjoada e as palavras não estão mais nítidas na página.

A última palavra “PASTO” ela precisa decifrar letra por letra para pronunciar o som da palavra e vai ver um capinzal, mas apesar disso consegue pronunciar a palavra “pasto”.

Quando termina ela fecha imediatamente o livro e o afasta, como se dissesse “CHEGA DISSO”.

Se perguntar o que ela acabou de ler poderá dizer “um lugar onde o capim cresce”. Ela até tem a imagem de um cavalo no ar, ele mesmo correndo, um muro de pedra, mas não consegue relacioná-las.

Quem ouve esta criança lendo pode dizer com certeza que ela não entendeu nada do que leu, mas ela não se importa de não entender, só está aliviada de ter sobrevivido a aflição dessa leitura. Se fosse um pouco mais velha saberia não entendeu o que acabou de ler e poderia voltar a ler. Mas vendo o cenário acima, você acha que adiantaria? Não.

Se for um adulto vai reler algo importante de três a dez vezes para entender ou então vai desistir.
Se  você se encaixa neste exemplo ou seu filho, não desista achando que precisará ser sempre assim,  procure ajuda e melhore sua capacidade para ler com mais conforto e mais facilidade. Tudo é modificavel!

                                                                                                                              Magna de Oliveira Melo

Referencia bibliográfica- DAVIS, Ronald D. o dom da dislexia . Rio de Janeiro: Rocco, 2004.

7 comentários:

  1. Elas conseguem lembrar as imagens que criam com facilidade?

    Se ela visualizar algo mentalmente, como funciona a memória dela para o que visualizou, ela consegue facilmente recordar? O esquema de memória de curto e longo prazo é igual ao de uma pessoa sem este problema?

    Adorei o Blog.

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  2. Desculpe não ter respondido ainda. Na próxima semama prometo explicar nop blog como funciona essa questão.
    Obrigada.
    Magna

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  3. Minha filha tem 4 anos e escreve algumas letras de cabeça para baixo e troca a letra "r" pelo "l" quando a palavra o "r" fica entre uma consoante e uma vogal. Posso considerá-la dislexica? O que devo fazer para colaborar no seu aprendizado sem traumas e respeitando o seu tempo de aprender?

    Ariane

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  4. Bom dia, você não pode não. Algumas crianças apresentam dificuldades como essa e não são disléxicas. Sua filha é muito novinha ainda. Você pode fazer algumas intervenções diretivas para que ela aprenda de maneira eficiente e não venha a apresentar dificuldades escolares mais tarde. observe.
    obrigada

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  5. complementando sua pergunta...existem joguinhos que estimulam a desenvolver certas habilidades requeridas para a leitura..e no lúdico sua filha vai aprendendo e se divertindo enquanto vocês brincam sem forçar e nem cobrar resultados ainda. Procure em lojas de material pedagógicos e até em supermercados você encontra.
    obrigada

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  6. Gostaria de saber como fazer quando adultos apresentam estes problemas,
    como dificuldade de escrita e leitura mesmo sendo alfabetizado.
    poderia indicar um proficional para esta area e DTAH? na região de Belo horizonte .

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  7. oi! adorei o blog , eu sou alfabetizada mas tenho notado mt dificuldade em ler livros , eu amo ler, acontece de eu ler e não saber o que li é mt difícil interpretar a escrita de uma frase , acontece de dar um branco total , e tento várias vezes , , e minha leitura é mt boa , então preciso de um ambiente com total silêncio , pq barulhos e conversas tira totalmente minha concentraçao e acabo ficando nervosa ,ansiosa até enjoada , e fico incomodada com a demora de terminar um livro , mas minha preocupação maior é :[ auto escola] , tive mt dificuldade na prova de legislaçao pq tinha que ler várias vezes suei frio , acabei conseguindo passar , com nota boa ,são 40 minutos para a prova , eu sabia que era capaz de fechar ela com 20 minutos mas com essa dificuldade na leitura quase estourei o tempo ! mas minha pauta venceu e não consegui tirar a carteira de motorista então ,vou ter que iniciar de novo já estou pensando na bendita provinha! notei essa dificuldade ainda maior após o parto e resguardo ,a falta de concentração , o esquecimento das coisas aumentou absurdamente ! eu não conseguia ver tudo isso como um problema , então só agora comecei a me preocupar e levar mais a sério ! e já me tratei com psiquiatra algum tempo atrás e o diagnóstico foi toc!! tem alguma coisa ligada?? obrigada pela atenção!

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